"É MUITO DIFÍCIL QUE NÃO SENDO HONRADOS OS PRINCIPAIS CIDADÃOS DE UM ESTADO, OS OUTROS QUEIRAM SER HOMENS DE BEM; QUE AQUELES ENGANEM E ESTES SE CONFORMEM COM SER ENGANADOS."
MONTESQUIEU, De l'Esprit des Lois,I:III,5
OVOS? Mal empregados. Só se forem os podres. Os outros fazem falt para o bolo rei. PODRES MUITOS E CERTEIROS NA CABEÇA DE TODOS OS MINISTROS E OPOSIÇÃO.
boa noite! estou neste momento a estudar medicina (literalmente) para o exame de seriação que todos os indivíduos que concluem o (agora) mestrado no país são obrigados a fazer, já que a especialização é obrigatoriamente feita na função pública. a grande vantagem deste método, apesar de trabalhoso, é permitir a prioridade do mérito, isto é, escolhe primeiro a vaga que quer (para uma dada especialidade) quem tem melhor nota no exame de seriação, já que as médias de faculdade são tudo menos homogéneas (isto em medicina e em qualquer outra área do conhecimento).
sendo assim, gostaria de saber a vossa fundamentação para descartares este método.
segundo: os médicos, após especialização na função pública, passam a trabalhar sob contracto, seja para um hospital privado, seja para um hospital público, o que significa que o fazem por objectivos, que existem cotas de progressão conforme o cumprimento desses objectivos (e dos lugares livres - não podem existir dois chefes de serviço no mesmo serviço), e que são avaliados por superiores hierárquicos e por pares (concorrentes, tal como vós).
gostaria de saber a vossa opinião sobre o assunto.
acreditem que vos tenho muito respeito, pois se entrei em medicina foi graças a professores dedicados que nunca se escusaram a me ensinar, mas parece-me não se estarem a contextualizar com o restante país. pior, parece-me que o estão a castigar enormemente, por uma discordância que têm com o ministério.
porque não fazem uma greve de zelo e provam que o sistema não funciona? concordo com o vosso protesto na componente burocrática, mas em nada mais.
Sérgio… Já que insistes… 1º Dada a forma como escreves, resta-me esperar que sejas melhor médico do que escritor… 2º Tenho a certeza que estás agradecido aos teus professores, pelo motivo anterior, comigo, nunca entrarias em Medicina ou nada parecido… 3º Quanto às licenciaturas e mestrados à bolonhesa, nem falo. A não ser que alguém me explique como se pode aprender, agora, em metade do tempo, o que antes se aprendia no dobro do mesmo… 4º Quanto a cotas, disparidades de notas entre universidades e a seriações por classificação, nós sempre soubemos, sujeitámo-nos e sofremos isso. Nada de mais, excepto, talvez, para ti… 5º Gostaria de saber quanto ganha um chefe de serviço e um médico que o não seja, depois disso falaríamos… Mas mais, se algo vai mal na vossa carreira, porquê querer contagiar ou contaminar as outras? Devemos copiar o que está bem ou o que está mal? 6º Antes que queiras que os médicos sejam avaliados pelo número de óbitos, pensa primeiro quantos iriam para oncologia, gerontologia e esses nomes que eu desconheço… 7º Antes que queiras que os médicos sejam avaliados pelo número de abandono de tratamento e/ou acompanhamento, pensa primeiro quem iria para psiquiatria… 8º Uma greve de zelo nas escolas era o fim do mundo, pois nada funciona... É pena que os médicos inspectores de saúde pública não vão às escolas... Escolhe essa especialidade, vai lá e depois falamos... Um abraço meu caro, vai estudar e esperemos que o vosso sistema funcione bem…
Em primeiro lugar, permita-me perguntar se lhe fui incorrecto ou cáustico, pois foi essa a resposta que tive de si, e como reacção gera contra-reacção... Quanto ao critério de entrada em qualquer graduação (a discriminação de qual é irrelevante), felizmente tal não depende da subjectividade da entrevista directa (a tal que me reprovaria se feita por si) mas em valores objectivos obtidos através de exames feitos a nível nacional. É uma pena que a entrada no ensino superior não se reja por este meio, já que assim continua a valorizar-se a subjectividade da "média do secundário". Posto isto, eu nunca argumentei contra o exame de seriação pós-graduação, sendo que aliás o elogiei. A avaliação deve ser sempre objectiva na existência de um concurso público (sendo que o ideal seria se tal se aplicasse em todos eles). Está a favor ou contra esta determinação de mérito e eficiência? Continuando, acho que sobre o Protocolo de Bolonha se deveria informar melhor, quanto mais não seja por uma questão de cultura geral. O meu "mestrado" (graduação) é "oferecido" em 6 anos, tal e qual a anterior "licenciatura em medicina" (também uma simples graduação). Com esta "desvantagem" limpa, passo a enumerar as vantagens: 1 - o meu "mestrado" permite-me trabalhar com equivalência directa em qualquer estado europeu; 2 - para "mestrados" não integrados, pode fazer o ciclo básico numa escola, e depois frequentar o avançado numa outra, aumentando a sua experiência académica, com benefícios profissionais posteriores; 3 - regulação de qualidade das diversas universidades europeias pelo nível de qualidade europeu. Custa-me a crer que isto reduza o tempo de licenciatura/mestrado per se, sendo que quando tal acontece uma melhor gestão de recursos humanos beneficiará os alunos. Provavelmente, um actual ingresso seu no ensino superior dar-lhe-ia ideia diferente dos moldes com que se instruem os alunos de hoje. Temos alunos brilhantes no ensino superior, capazes de responder à dita "sobrecarga programática"! O ensino superior tornou-se mais difícil e consequentemente mais rigoroso. Por acaso tem essa noção?
Fique sabendo também que: - os cirurgiões são penalizados pelo número de óbitos, e valorizados por cada cirurgia bem sucedida que façam (como parte intregrante do seu curriculum vitae); - os chefes de serviço não têm um vencimento muito superior ao dos seus colegas (o horário semanal é também maior); - todos trabalham contractados (isto é, com necessidade de demonstrar eficiência perante o empregador).
Se concordo ou discordo com tal, sabendo até que vou ingressar neste esquema? claro que concordo! nasci numa era de progresso europeu e sou defensor da filosofia europeia do trabalho rigoroso. "carreiras públicas" acontecem nos países da América Latina, e económicamente não me parecem muito bem. Quereis provar que o sistema não funciona? Greve de Zelo! A Greve Comum só gera revolta da restante sociedade contra vós, o que é contra-producente.
E uma vez que ao invés de me responder me fez umas tantas outras questões, mantenho alguma curiosidade na sua posição. Se ma puder facultar?
Muito Obrigado, Cumprimentos, Sérgio Figueiredo
(P.S.: Já agora, e porque talvez me saiba responder: porque nunca foi adoptado o modelo pedagógico da Escola da Ponte, na Vila das Aves? Sei que houve algumas tentativas infrutíferas para o fazer, mesmo tendo em conta que o sistema tem um rendimento educativo muito superior! Dá mais trabalho aos professores, é certo, mas pedagociamente é muito superior!)
Meu bom Sérgio, 1º Creio não ter sido incorrecto, pois não é nem meu hábito, nem a minha forma de ser ou comunicar. Quanto a cáustico, bom aí sim, basta dar uma vista de olhos pelo blogue e verá que sou assim, no entanto não encontrará insultos ou grandes palavrões. 2º Quando me referia ao facto de que, comigo, não conseguiria, possivelmente, média suficiente para entrar em medicina, não me referia a nenhum aspecto subjectivo ou difícil de entender; tão só me parece que escreve bastante mal, aqui incluindo alguns erros ortográficos que são inadmissíveis a nível de um 11º ano. Foi esse o sentido do meu reparo, já que sou professor de letras e considero importante qualquer pessoa saber exprimir-se com facilidade e correcção. Não me venha, pois, falar de médias do ensino secundário, aliás, até etimologicamente, elas existiam para corrigirem qualquer injustiça. Nos últimos anos, confesso, o grau de exigência deste nível de ensino tem-se vindo a deteriorar bastante, por culpa não dos alunos nem dos professores, mas dos governantes que, continuamente, exigem que se baixe a fasquia da exigência e se aumente a da percentagem de sucesso. As consequências são as um aumento falso, porque meramente virtual, das taxas de sucesso e dos níveis das classificações. Os graves problemas que isso acarreta são fáceis de ver: por um lado perde-se o valor efectivo que tinham as certificações do ensino secundário, por outro, transferem-se essas dificuldades para o ensino superior, uma vez que a seriação, por mérito, começou a não ser feita no secundário… Compreende? O que hoje se passa é que pululam pelas faculdades pessoas que não têm as competências mínimas de um ensino secundário minimamente sério e mais, convencidas de que o têm, o que só piora as coisas. 3º Como facilmente pôde constatar, sou inteiramente a favor da seriação por mérito, aliás, foi assim que fui seriado, numa altura em que apenas existiam, à excepção da católica, universidades públicas. Na minha entrada para o ensino superior contou a média do secundário, mas, sobretudo, os resultados dos exames nacionais. Nada mais claro. 4º Quanto a Bolonha, creio que dividir um curso superior em licenciatura e mestrado só desvaloriza as duas certificações, ambas passam a ser banalizadas. No meu caso, fiz 6 anos de licenciatura, o que equivaleria, agora, a licenciatura e mestrado e 3 anos de mestrado, o que equivaleria, hoje a doutoramento, com o senão de que saíam poucos mestres porque a maior parte desistia… No caso do meu, entrámos 25 e só eu concluí… Ou seja, era difícil e num patamar de exigência completamente diferente do da licenciatura, que já não era nada fácil… A explicação para isto parece-me ser, essencialmente, economicista, as licenciaturas são tendencialmente gratuitas e os mestrados pagam-se, logo os estados poupam dinheiro na educação; porém perdem na exigência e na valorização do mérito, que o Sérgio tanto parece apreciar. Ainda, o nível do ensino superior, como não podia deixar de ser, baixou imenso e sei-o porque, a esse respeito, estou bem informado, todas as pessoas que conheço e que exercem nesse nível de ensino se queixam do facilitismo e das dificuldades e ignorância com que se deparam. Porém, como o financiamento das universidades depende das tais ditas taxas de sucesso e número de alunos, o problema do secundário está a reflectir-se no superior. A título de exemplo, uma pessoa minha conhecida, da área da saúde e já jubilada, confessava-me há pouco tempo, que da turma que tinha este ano não aproveitaria um, só que o mestrado fechava… Logo, teve que baixar a bitola anterior. 5º A resposta que me deu é, para mim, muito relevante. Pelo facto do chefe de serviço ganhar pouco mais do que os seus subalternos é fácil constatar que aos outros é conferido um salário que lhes permite viver com dignidade. Acredite que isso clarifica muitas coisas… 6º Não conheço a Escola da Ponte. 7º Quando me diz: “nasci numa era de progresso europeu”, creio que tem toda a razão, nasceu. Nasceu, mas já não vive… Pelo contrário, a Europa encontra-se mergulhada numa profundíssima crise global, a tal ponto que aquilo que era seu apanágio e o sustentáculo do seu humanismo, na época em que nasceu, já não se consegue manter de pé, isto é, as carreiras públicas que eram as únicas que conseguiam manter um nível de solidariedade social a níveis minimamente aceitáveis. Quando falo nisto falo nos sectores chave: saúde, educação, trabalho, justiça, etc. Agora que tudo isso se desmorona o que vemos ao fundo do túnel? Vemos o emprego precário, o péssimo nível de vida, as perdas de direitos, sobretudo a nível de segurança social e justiça, tudo aquilo que, ao contrário do que diz, não é algo próprio da América Latina, mas que eram, tão só, as características distintivas da sociedade humanista europeia, nomeadamente face ao modelo americano, que o meu amigo parece preconizar. Pois bem, olhe para a América, e para os milhões de miseráveis que resultaram desse sistema, e olhe para a Europa… apesar de nos aproximarmos deles, ainda estamos substancialmente melhor. É isso que preocupa os verdadeiros europeístas, a perda progressiva e muito rápida desses ideais que eram os seus, se quiser é toda a concepção de um estado providência que está a estourar, sem que se veja algo melhor para ficar no seu lugar, a não ser, talvez, a luta de cães em que assentam as sociedades individualistas do salve-se quem puder. Portugal é um bom exemplo… Olhe à sua volta e verá, os pobres cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos, os poderosos cada vez mais poderosos e os fracos cada vez mais fracos. É isso que deseja? Pois, meu caro, é isso que vem a caminho.
Pelos erros ortigráficos o meu pedido de desculpas. Se é verdade que a boa leitura fomenta a boa escrita (actividade que tenho como paixão), também é verdade que a leitura exaustiva de algo escrito numa língua estrangeira (neste caso inglês) deteriora a "boa escrita". Concordo consigo na necessidade pública de boa capacidade de expressão (querendo com capacidade dizer qualidade), sendo que de momento, melhor não posso fazer que pedir desculpas. Quanto ao modelo pedagógico utilizado na Escola da Ponte, na Vila das Aves, uma pesquisa rápida no Google com esta informação ilumina-lo-á sobre o mesmo. Acredito que fique tão deslumbrado pela boa pedagogia (e bons resultados) como eu fiquei. É desde há demasiados anos um modelo a seguir (mais progressista que o sistema finlandês).
Quanto à "carreira social" europeia, lembre-se que os mercados emergentes são cada vez mais nossos concorrentes. Isto obriga a uma maior eficácia nas nossas actividades. O mundo industrial EUA-Europa-Japão dos anos 80 e 90 já não existe! Como não podemos contar com a boa vontade de todos, a única forma de garantirmos a eficácia plural é através da avaliação desta.
O modelo é excessivamente burocrático, algo com o qual concordo em absoluto. Já há muito tempo que em discussões semelhantes defendo um comité de avaliação externa, composto por peritos da área pedagógica (tal como sugerido agora por António Vitorino). Para todos os efeitos a avaliação terá que constituir sempre uma ameaça sobre o "não esforço", algo que parto do princípio que aplica nos seus alunos (o reforço negativo como complemento do positivo). Isto obriga a que seja muito mais séria do que aquilo que se tem visto até hoje (parto do princípio que também concordará). A avaliação de pares (ou hetero-avaliação, tal como a pede aos seus alunos) tem uma função de correcção aos eventuais "erros avaliativos do avaliador" (para o qual também se aplica a auto-avaliação). O peso da avaliação de pares tem o peso adequado.
Se a política é economicista, pense porque se terá tornado assim. Decerto não foi apenas a classe política a aproveitar-se disso, mas antes uma deseducação económica que se gerou após a entrada na UE (por culpa de todos os portugueses, com o vislumbramento do "dinheiro fácil", e não por culpa da UE). Países que investiram o capital europeu em educação (Irlanda, Finlândia) tiveram um crescimento rápido e sustentado, mas para isso houve um critério muito apertado na escolha de professores. Como exemplo, o senhor sabia que a educação na Irlanda funciona num regime semi-público (tais como os recentes hospitais púbicos), sendo que as receitas escolares obtidas do estado originam-se no número de alunos em ensino. Cada aluno (ou família do mesmo) pode escolher a escola a ingressar, sabido que quanto melhor a escola, maior o número de alunos. A gestão escolar, num sentido de melhoria, cria melhores instalações e escolhe os melhores professores. Algumas escolas (as menos boas) chegam mesmo a fechar, com os professores e restante pessoal a irem para o desemprego... Está a ver como a concorrência pode ser positiva?
E para finalizar, porque me acusou de algum capitalismo, gostaria de afirmar que sou "de esquerda" como a esquerda deve ser - sem classes - algo que falta entrar no espírito de muitos (sindicalistas, professores, médicos, etc.) que actuam de forma corporativa como ordens (e como eu desprezo a Ordem dos Médicos)...
6 comentários:
OVOS? Mal empregados.
Só se forem os podres.
Os outros fazem falt para o bolo rei.
PODRES MUITOS E CERTEIROS NA CABEÇA DE TODOS OS MINISTROS E OPOSIÇÃO.
boa noite! estou neste momento a estudar medicina (literalmente) para o exame de seriação que todos os indivíduos que concluem o (agora) mestrado no país são obrigados a fazer, já que a especialização é obrigatoriamente feita na função pública. a grande vantagem deste método, apesar de trabalhoso, é permitir a prioridade do mérito, isto é, escolhe primeiro a vaga que quer (para uma dada especialidade) quem tem melhor nota no exame de seriação, já que as médias de faculdade são tudo menos homogéneas (isto em medicina e em qualquer outra área do conhecimento).
sendo assim, gostaria de saber a vossa fundamentação para descartares este método.
segundo: os médicos, após especialização na função pública, passam a trabalhar sob contracto, seja para um hospital privado, seja para um hospital público, o que significa que o fazem por objectivos, que existem cotas de progressão conforme o cumprimento desses objectivos (e dos lugares livres - não podem existir dois chefes de serviço no mesmo serviço), e que são avaliados por superiores hierárquicos e por pares (concorrentes, tal como vós).
gostaria de saber a vossa opinião sobre o assunto.
acreditem que vos tenho muito respeito, pois se entrei em medicina foi graças a professores dedicados que nunca se escusaram a me ensinar, mas parece-me não se estarem a contextualizar com o restante país. pior, parece-me que o estão a castigar enormemente, por uma discordância que têm com o ministério.
porque não fazem uma greve de zelo e provam que o sistema não funciona? concordo com o vosso protesto na componente burocrática, mas em nada mais.
cumprimentos,
Sérgio Figueiredo
Sérgio… Já que insistes…
1º Dada a forma como escreves, resta-me esperar que sejas melhor médico do que escritor…
2º Tenho a certeza que estás agradecido aos teus professores, pelo motivo anterior, comigo, nunca entrarias em Medicina ou nada parecido…
3º Quanto às licenciaturas e mestrados à bolonhesa, nem falo. A não ser que alguém me explique como se pode aprender, agora, em metade do tempo, o que antes se aprendia no dobro do mesmo…
4º Quanto a cotas, disparidades de notas entre universidades e a seriações por classificação, nós sempre soubemos, sujeitámo-nos e sofremos isso. Nada de mais, excepto, talvez, para ti…
5º Gostaria de saber quanto ganha um chefe de serviço e um médico que o não seja, depois disso falaríamos… Mas mais, se algo vai mal na vossa carreira, porquê querer contagiar ou contaminar as outras? Devemos copiar o que está bem ou o que está mal?
6º Antes que queiras que os médicos sejam avaliados pelo número de óbitos, pensa primeiro quantos iriam para oncologia, gerontologia e esses nomes que eu desconheço…
7º Antes que queiras que os médicos sejam avaliados pelo número de abandono de tratamento e/ou acompanhamento, pensa primeiro quem iria para psiquiatria…
8º Uma greve de zelo nas escolas era o fim do mundo, pois nada funciona... É pena que os médicos inspectores de saúde pública não vão às escolas... Escolhe essa especialidade, vai lá e depois falamos...
Um abraço meu caro, vai estudar e esperemos que o vosso sistema funcione bem…
Meu Caro,
Em primeiro lugar, permita-me perguntar se lhe fui incorrecto ou cáustico, pois foi essa a resposta que tive de si, e como reacção gera contra-reacção...
Quanto ao critério de entrada em qualquer graduação (a discriminação de qual é irrelevante), felizmente tal não depende da subjectividade da entrevista directa (a tal que me reprovaria se feita por si) mas em valores objectivos obtidos através de exames feitos a nível nacional. É uma pena que a entrada no ensino superior não se reja por este meio, já que assim continua a valorizar-se a subjectividade da "média do secundário".
Posto isto, eu nunca argumentei contra o exame de seriação pós-graduação, sendo que aliás o elogiei. A avaliação deve ser sempre objectiva na existência de um concurso público (sendo que o ideal seria se tal se aplicasse em todos eles). Está a favor ou contra esta determinação de mérito e eficiência?
Continuando, acho que sobre o Protocolo de Bolonha se deveria informar melhor, quanto mais não seja por uma questão de cultura geral. O meu "mestrado" (graduação) é "oferecido" em 6 anos, tal e qual a anterior "licenciatura em medicina" (também uma simples graduação). Com esta "desvantagem" limpa, passo a enumerar as vantagens:
1 - o meu "mestrado" permite-me trabalhar com equivalência directa em qualquer estado europeu;
2 - para "mestrados" não integrados, pode fazer o ciclo básico numa escola, e depois frequentar o avançado numa outra, aumentando a sua experiência académica, com benefícios profissionais posteriores;
3 - regulação de qualidade das diversas universidades europeias pelo nível de qualidade europeu.
Custa-me a crer que isto reduza o tempo de licenciatura/mestrado per se, sendo que quando tal acontece uma melhor gestão de recursos humanos beneficiará os alunos. Provavelmente, um actual ingresso seu no ensino superior dar-lhe-ia ideia diferente dos moldes com que se instruem os alunos de hoje. Temos alunos brilhantes no ensino superior, capazes de responder à dita "sobrecarga programática"! O ensino superior tornou-se mais difícil e consequentemente mais rigoroso. Por acaso tem essa noção?
Fique sabendo também que:
- os cirurgiões são penalizados pelo número de óbitos, e valorizados por cada cirurgia bem sucedida que façam (como parte intregrante do seu curriculum vitae);
- os chefes de serviço não têm um vencimento muito superior ao dos seus colegas (o horário semanal é também maior);
- todos trabalham contractados (isto é, com necessidade de demonstrar eficiência perante o empregador).
Se concordo ou discordo com tal, sabendo até que vou ingressar neste esquema? claro que concordo! nasci numa era de progresso europeu e sou defensor da filosofia europeia do trabalho rigoroso. "carreiras públicas" acontecem nos países da América Latina, e económicamente não me parecem muito bem. Quereis provar que o sistema não funciona? Greve de Zelo! A Greve Comum só gera revolta da restante sociedade contra vós, o que é contra-producente.
E uma vez que ao invés de me responder me fez umas tantas outras questões, mantenho alguma curiosidade na sua posição. Se ma puder facultar?
Muito Obrigado,
Cumprimentos,
Sérgio Figueiredo
(P.S.: Já agora, e porque talvez me saiba responder: porque nunca foi adoptado o modelo pedagógico da Escola da Ponte, na Vila das Aves? Sei que houve algumas tentativas infrutíferas para o fazer, mesmo tendo em conta que o sistema tem um rendimento educativo muito superior! Dá mais trabalho aos professores, é certo, mas pedagociamente é muito superior!)
Meu bom Sérgio,
1º Creio não ter sido incorrecto, pois não é nem meu hábito, nem a minha forma de ser ou comunicar. Quanto a cáustico, bom aí sim, basta dar uma vista de olhos pelo blogue e verá que sou assim, no entanto não encontrará insultos ou grandes palavrões.
2º Quando me referia ao facto de que, comigo, não conseguiria, possivelmente, média suficiente para entrar em medicina, não me referia a nenhum aspecto subjectivo ou difícil de entender; tão só me parece que escreve bastante mal, aqui incluindo alguns erros ortográficos que são inadmissíveis a nível de um 11º ano. Foi esse o sentido do meu reparo, já que sou professor de letras e considero importante qualquer pessoa saber exprimir-se com facilidade e correcção. Não me venha, pois, falar de médias do ensino secundário, aliás, até etimologicamente, elas existiam para corrigirem qualquer injustiça. Nos últimos anos, confesso, o grau de exigência deste nível de ensino tem-se vindo a deteriorar bastante, por culpa não dos alunos nem dos professores, mas dos governantes que, continuamente, exigem que se baixe a fasquia da exigência e se aumente a da percentagem de sucesso. As consequências são as um aumento falso, porque meramente virtual, das taxas de sucesso e dos níveis das classificações.
Os graves problemas que isso acarreta são fáceis de ver: por um lado perde-se o valor efectivo que tinham as certificações do ensino secundário, por outro, transferem-se essas dificuldades para o ensino superior, uma vez que a seriação, por mérito, começou a não ser feita no secundário… Compreende? O que hoje se passa é que pululam pelas faculdades pessoas que não têm as competências mínimas de um ensino secundário minimamente sério e mais, convencidas de que o têm, o que só piora as coisas.
3º Como facilmente pôde constatar, sou inteiramente a favor da seriação por mérito, aliás, foi assim que fui seriado, numa altura em que apenas existiam, à excepção da católica, universidades públicas. Na minha entrada para o ensino superior contou a média do secundário, mas, sobretudo, os resultados dos exames nacionais. Nada mais claro.
4º Quanto a Bolonha, creio que dividir um curso superior em licenciatura e mestrado só desvaloriza as duas certificações, ambas passam a ser banalizadas. No meu caso, fiz 6 anos de licenciatura, o que equivaleria, agora, a licenciatura e mestrado e 3 anos de mestrado, o que equivaleria, hoje a doutoramento, com o senão de que saíam poucos mestres porque a maior parte desistia… No caso do meu, entrámos 25 e só eu concluí… Ou seja, era difícil e num patamar de exigência completamente diferente do da licenciatura, que já não era nada fácil… A explicação para isto parece-me ser, essencialmente, economicista, as licenciaturas são tendencialmente gratuitas e os mestrados pagam-se, logo os estados poupam dinheiro na educação; porém perdem na exigência e na valorização do mérito, que o Sérgio tanto parece apreciar.
Ainda, o nível do ensino superior, como não podia deixar de ser, baixou imenso e sei-o porque, a esse respeito, estou bem informado, todas as pessoas que conheço e que exercem nesse nível de ensino se queixam do facilitismo e das dificuldades e ignorância com que se deparam. Porém, como o financiamento das universidades depende das tais ditas taxas de sucesso e número de alunos, o problema do secundário está a reflectir-se no superior. A título de exemplo, uma pessoa minha conhecida, da área da saúde e já jubilada, confessava-me há pouco tempo, que da turma que tinha este ano não aproveitaria um, só que o mestrado fechava… Logo, teve que baixar a bitola anterior.
5º A resposta que me deu é, para mim, muito relevante. Pelo facto do chefe de serviço ganhar pouco mais do que os seus subalternos é fácil constatar que aos outros é conferido um salário que lhes permite viver com dignidade. Acredite que isso clarifica muitas coisas…
6º Não conheço a Escola da Ponte.
7º Quando me diz: “nasci numa era de progresso europeu”, creio que tem toda a razão, nasceu. Nasceu, mas já não vive… Pelo contrário, a Europa encontra-se mergulhada numa profundíssima crise global, a tal ponto que aquilo que era seu apanágio e o sustentáculo do seu humanismo, na época em que nasceu, já não se consegue manter de pé, isto é, as carreiras públicas que eram as únicas que conseguiam manter um nível de solidariedade social a níveis minimamente aceitáveis. Quando falo nisto falo nos sectores chave: saúde, educação, trabalho, justiça, etc. Agora que tudo isso se desmorona o que vemos ao fundo do túnel? Vemos o emprego precário, o péssimo nível de vida, as perdas de direitos, sobretudo a nível de segurança social e justiça, tudo aquilo que, ao contrário do que diz, não é algo próprio da América Latina, mas que eram, tão só, as características distintivas da sociedade humanista europeia, nomeadamente face ao modelo americano, que o meu amigo parece preconizar. Pois bem, olhe para a América, e para os milhões de miseráveis que resultaram desse sistema, e olhe para a Europa… apesar de nos aproximarmos deles, ainda estamos substancialmente melhor. É isso que preocupa os verdadeiros europeístas, a perda progressiva e muito rápida desses ideais que eram os seus, se quiser é toda a concepção de um estado providência que está a estourar, sem que se veja algo melhor para ficar no seu lugar, a não ser, talvez, a luta de cães em que assentam as sociedades individualistas do salve-se quem puder.
Portugal é um bom exemplo… Olhe à sua volta e verá, os pobres cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos, os poderosos cada vez mais poderosos e os fracos cada vez mais fracos. É isso que deseja? Pois, meu caro, é isso que vem a caminho.
Meu caro,
Pelos erros ortigráficos o meu pedido de desculpas. Se é verdade que a boa leitura fomenta a boa escrita (actividade que tenho como paixão), também é verdade que a leitura exaustiva de algo escrito numa língua estrangeira (neste caso inglês) deteriora a "boa escrita". Concordo consigo na necessidade pública de boa capacidade de expressão (querendo com capacidade dizer qualidade), sendo que de momento, melhor não posso fazer que pedir desculpas.
Quanto ao modelo pedagógico utilizado na Escola da Ponte, na Vila das Aves, uma pesquisa rápida no Google com esta informação ilumina-lo-á sobre o mesmo. Acredito que fique tão deslumbrado pela boa pedagogia (e bons resultados) como eu fiquei. É desde há demasiados anos um modelo a seguir (mais progressista que o sistema finlandês).
Quanto à "carreira social" europeia, lembre-se que os mercados emergentes são cada vez mais nossos concorrentes. Isto obriga a uma maior eficácia nas nossas actividades. O mundo industrial EUA-Europa-Japão dos anos 80 e 90 já não existe! Como não podemos contar com a boa vontade de todos, a única forma de garantirmos a eficácia plural é através da avaliação desta.
O modelo é excessivamente burocrático, algo com o qual concordo em absoluto. Já há muito tempo que em discussões semelhantes defendo um comité de avaliação externa, composto por peritos da área pedagógica (tal como sugerido agora por António Vitorino). Para todos os efeitos a avaliação terá que constituir sempre uma ameaça sobre o "não esforço", algo que parto do princípio que aplica nos seus alunos (o reforço negativo como complemento do positivo). Isto obriga a que seja muito mais séria do que aquilo que se tem visto até hoje (parto do princípio que também concordará). A avaliação de pares (ou hetero-avaliação, tal como a pede aos seus alunos) tem uma função de correcção aos eventuais "erros avaliativos do avaliador" (para o qual também se aplica a auto-avaliação). O peso da avaliação de pares tem o peso adequado.
Se a política é economicista, pense porque se terá tornado assim. Decerto não foi apenas a classe política a aproveitar-se disso, mas antes uma deseducação económica que se gerou após a entrada na UE (por culpa de todos os portugueses, com o vislumbramento do "dinheiro fácil", e não por culpa da UE). Países que investiram o capital europeu em educação (Irlanda, Finlândia) tiveram um crescimento rápido e sustentado, mas para isso houve um critério muito apertado na escolha de professores. Como exemplo, o senhor sabia que a educação na Irlanda funciona num regime semi-público (tais como os recentes hospitais púbicos), sendo que as receitas escolares obtidas do estado originam-se no número de alunos em ensino. Cada aluno (ou família do mesmo) pode escolher a escola a ingressar, sabido que quanto melhor a escola, maior o número de alunos. A gestão escolar, num sentido de melhoria, cria melhores instalações e escolhe os melhores professores. Algumas escolas (as menos boas) chegam mesmo a fechar, com os professores e restante pessoal a irem para o desemprego... Está a ver como a concorrência pode ser positiva?
E para finalizar, porque me acusou de algum capitalismo, gostaria de afirmar que sou "de esquerda" como a esquerda deve ser - sem classes - algo que falta entrar no espírito de muitos (sindicalistas, professores, médicos, etc.) que actuam de forma corporativa como ordens (e como eu desprezo a Ordem dos Médicos)...
Cumprimentos,
Sérgio Figueiredo
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