domingo, 1 de fevereiro de 2009

TRATEM BEM OS PROFESSORES...


Tratem bem os professores… eles começam a ser uma espécie rara e em vias de extinção…
Uns pequenos comentários e um sério aviso.

Hoje, quando surgem estas notícias capciosas que deturpam a verdadeira realidade, ao dizerem que o sistema educativo absorveu quase 60% dos professores desempregados, desejo chamar à atenção para a verdadeira realidade: o número de professores desempregados pode ter diminuído mas não foi por o sistema educativo os passar a integrar, foi porque o número de pessoas a procurar essa profissão diminuiu pelo abandono, uns irem para a reforma e outros para outras profissões.
Retomo o essencial de um texto que escrevi há mais de um ano atrás e que, na altura, enviei para uma série de jornais, revistas e por aí fora sem que ninguém lhe prestasse a mínima atenção. Lembro que, contudo, se estava a falar da implementação das medidas da sinistra ministra ou vice-versa e o assunto bailava, de boca em boca, na ordem do dia.
Até aqui… dúvidas são dúvidas e já começamos a ver que a montanha pariu um rato, isto é, o único intuito foi meramente economicista, atrasando as progressões nas carreiras, fazendo milhares de colegas mais velhos pedir a reforma, ainda que com graves penalizações, o que constitui o duplo ganho de penalizar nas reformas e de os fazer substituir por colegas que, não estando na carreira, já que as vagas estão fechadas há anos, ganham pelo mínimo da tabela, vilipendiando a classe e virando a estúpida opinião pública, perdoem-me a franqueza mas não é difícil virar a grande maioria das pessoas contra aqueloutros, que tiveram que os chatear e contrariar para os socializar e dos quais, nestes casos, apenas parecemos recordar as experiências más e esquecer as boas. Pelo que vejo, leio e através disso julgo saber, os nossos chefes mais directos, a sinistra e o suspeito seguem-lhes o exemplo, também o seu percurso escolar é tão dúbio, tão acanhado, tão modesto… Fico por aqui.
O que me assusta verdadeiramente é que, muito em breve, não teremos ninguém que queira ser professor ou então teremos apenas pessoas desqualificadas e inaptas para o serem, os idiotas do costume, isto é aqueles que pensam que os professores ganham muito e não fazem nada, que pensem um pouco… quem é que, no seu juízo perfeito, quer hoje iniciar uma carreira de professor? Quais são os atractivos? Ganhar à volta de cento e poucos contos, ser obrigado a ter uma qualificação académica elevadíssima (e séria…), sujeitar-se a andar de malas às costas mais de uma década e ser insultado e enxovalhado por alunos, pais, políticos e, no fundo, por todos excepto os colegas que os percebem? Quem desconhece poderá dizer que no topo da carreira se ganha muito, o tal 10º escalão, pois bem, não chega a 400 contos, ao fim de 35 anos de serviço, acham muito? Qualquer badameco ganha muito mais que isso sem se sujeitar a uma vida de estudo e sacrifícios cada vez mais acentuada. Resultado? Vai-se voltar ao passado em que 90% dos professores estavam de passagem e para quem as aulas eram um biscate para o início de carreira ou um mero entretém. Duvidam? Eu sou desse tempo, quando era aluno os meus professores raramente tinham habilitações profissionais para o serem e só nestes últimos anos lectivos e na escola onde sou professor saíram inúmeros colegas: ou pediram a reforma, por não aguentarem mais, ou foram curiosos, alguns com muito boa vontade, qualificação e (perdoem-me a expressão nada eduquesa, com muito jeito para ensinar) que foram experimentar e quando viram ao que iam chamaram-nos malucos e foram-se embora. Alguns sem se darem ao trabalho de o comunicar
Fizeram bem, hoje ser professor raia a idiotia e, nessa medida, talvez a sinistra tenha razão em nos tratar como idiotas. Porém, não esqueçam que os filhos deles terão sempre bons professores e bons colégios, os vossos filhos é que não… acabando a geração que agora está a leccionar não haverá mais pessoas à altura de o fazerem e lembro os mais desprevenidos que formar um professor leva mais de dez anos… não é de um dia para o outro como os ministros e os políticos. Por tudo isto vos digo: não se deixem enganar por estes carrascos da escola pública, tenham cuidado, não vão em conversas e, sobretudo, tratem bem os professores, eles já começam a ser uma espécie rara, em vias de extinção…

5 comentários:

Anónimo disse...

Infelizmente tudo o que diz é verdade. Sou professora e começo seriamente a pensar que permanecer na profissão é para masoquistas.
Só não estou de acordo quando diz que os colégios têm qualidade. Nem sempre têm mais qualidade que as escolas públicas.

quink644 disse...

Começa a ser um facto e, a seu tempo, será uma realidade evidente, em bom rigor todo o plano foi engendrado com esse fim... a morte e o descrédito efectivos do ensino público, após esse passo estar dado, seguir-se-á a privatização do ensino com dois objectivos atingidos: menos verbas gastas no ensino público, mais os impostos conseguidos pelos custos do privado.

Anónimo disse...

Mas que coisa!
Ainda não se aperceberam que o Mundo acabou no ano 2000?

Agora vivemos num mundo virtual. O Zézito é um avatar como outro qualquer.

Vá lá... saiam da treta de second life e voltem à realidade.

Beijos

Margarida disse...

De entre muitas verdades que neste texto são reveladas, despertou-me a atenção para a situação do abandono da profissão por profissionais capacitados e o possível cenário da escola poder voltar a ser o segundo emprego, com tudo o que isso implica. Também me deixou a matutar(já que quem também devia fazê-lo não o faz)que a formação de um professor demora cerca de dez anos. É um investimento moroso demais para ser desperdiçado!
Não podemos dar-nos a esses "luxos"! Investir dez anos numa formação especializada, para acabar na caixa de um qualquer hipermercado, callcenter, etc. sem demérito para essas profissões e por quem as exerce.
Acordai!

quink644 disse...

Há anos que o venho dizendo... Por este caminho, brevemente, a continuidade de efectivos qualificados para desmpenhar esta tarefa será posta em causa. Para além disso, os mais experientes já partiram agora e já lhes estão a pedir voluntariado..., os que lá ficaram, contam os dias para ir embora, os outros, desacreditados e sentindo-se ultrajados deixam andar, o tempo dar-nos-á razão os novos, parecem baratas tontas e assustadas, sem saberem o que fazer. É a vida escolar deste momento...