
"É MUITO DIFÍCIL QUE NÃO SENDO HONRADOS OS PRINCIPAIS CIDADÃOS DE UM ESTADO, OS OUTROS QUEIRAM SER HOMENS DE BEM; QUE AQUELES ENGANEM E ESTES SE CONFORMEM COM SER ENGANADOS." MONTESQUIEU, De l'Esprit des Lois,I:III,5
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
Bom mergulho em 2009...

É ‘MINTIRA’!

“Esta evolução da política monetária na Zona Euro é o principal motivo para o alívio que os portugueses têm vindo a sentir na prestação dos empréstimos indexados à Euribor.”
É ‘MINTIRA’!
O nosso iginheiro disse que tinha sido ele a fazer baixar as prestações e esse homem nunca mente. Portanto, repito, É ‘MINTIRA’! A descida das prestações devem-se a ele...
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
E ainda falta o Adamastor...

O ano passado foi o terceiro ano consecutivo em que a carga fiscal aumentou em PortugalA carga fiscal dos portugueses aumentou em 2007 pelo terceiro ano consecutivo, encontrando-se em máximos de pelo menos 13 anos, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) hoje divulgados.
Preparar para a crise...

Como será o acordo...
DESCE LÁ DO ESCADOTE...

Ó homem, desce lá do escadote… Desde quando é que umas pequenas alterações no estatuto dos Açores são algo do superior interesse nacional? Desde quando é que esse assunto é mais importante, esses sim de interesse nacional, do que questões como a educação, revisão do código laboral, saúde, justiça e tantas outras que o presidente Aníbal António deixou passar com a mesma indiferença com que vê passar os navios no Tejo?
Não confundas interesses regionais com interesses nacionais, qualquer dia é do superior interesse nacional a tomada de posição do presidente da junta de freguesia de S. Martinho do Tostão Furado… Fica-te lá pelas ilhas e olha, combina um almoço com o teu colega Alberto João, que pode ser que ele esteja para te aturar… (ou com este...)
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

00h00m
Porque a realidade excede os meus dotes ficcionais, esta Ficha de Avaliação da Doutora Maria de Lurdes Rodrigues, Ministra da Educação, assenta nos critérios seguidos pelo seu Ministério incluindo, a terminologia usada na avaliação de docentes, o número de alíneas e a bitola de classificação.
Níveis de Pontuação: Mínimo 3, máximo 10.
A - Preparação e execução de actividades.
A - 1 Correcção científico-pedagógica e didáctica da planificação.
Classificação obtida - Nível 3
(Não efectuou as reformas previstas no Programa do Governo por falta de trabalho preparatório. As cenas de pugilato, luta greco-romana e intimidação por arma de fogo simulada nas áreas que lhe foram confiadas vão originar um aumento significativo da despesa pública com a contratação à Blackwater (por ajuste directo) de um mercenário israelita por cada sala de aula e dois nas salas dependentes da DREN).
A - 2 Adequação de estratégias.
Classificação obtida - Nível 3
(Não definiu linhas de rumo nem planos de acção que permitissem concretizar a missão delineada, usando como benchmarking nacional os parâmetros seguidos no sistema educativo da Faixa de Gaza.)
A - 3 Adaptação da planificação e das estratégias.
Classificação obtida - Nível 3
(Não obteve eficácia aferível em três anos de actividade, consumindo no processo a maior parcela de verba pública atribuída a um Ministério. Insistiu em manter o organograma dos seus serviços (em particular da DREN) inspirado no modelo das Tentações de Santo Antão de Jeronimus Bosh).
A - 4 Diversidade, adequação e correcção científico-pedagógica das metodologias e recursos utilizados.
Classificação obtida - Nível 3
(A observação empírica dos resultados é indiciária de um inadequado e/ou incorrecto aproveitamento de recursos disponibilizados em sucessivos Orçamentos de Estado em tal monta que fazem o BPP parecer uma operação rentável. Adicionalmente, o seu Ministério atingiu tal desordem que faz a Assembleia Geral do Benfica parecer um retiro de monges Cartuxos).
B - Realização de actividades.
Classificação obtida - Nível 3
(A avaliação conclui que à incapacidade da avaliada na "promoção de clima favorável" se junta a insuficiência de valências de conhecimentos gerais essenciais, como o atesta a confusão que fez a 23 de Junho de 2005 pp. em entrevista televisionada, falhando na distinção entre "República" e "Governo da República". Isto deu novas dimensões ao Estatuto da Autonomia dos Açores e inspirou o Chefe do Estado a crescentes afrontas à vontade do Parlamento com graves e desgastantes consequências para o executivo.
Nas secções C e D da Ficha de Avaliação do Ministério da Educação, nos quatro subgrupos, a avaliada obteve oito classificações de Nível 3, pelo que, feita a média aritmética dos dezasseis parâmetros cotados lhe é atribuída a classificação geral de Insuficiente. Recomenda-se que sejam propostas à Doutora Maria de Lurdes Rodrigues as seguintes opções: integrar o quadro de mobilidade especial até colocação em Baucau; frequentar um curso das Novas Oportunidades e/ou filiar-se no Movimento Esperança Portugal; aceitar o 12º lugar na lista de espera para o próximo Conselho de Administração da FLAD; frequentar o curso de formação do INA - Limites da Autonomia Regional; ser animadora de As Tardes de Maria de Lurdes na RTP África; integrar a quota ainda disponível para antigos executivos socialistas na Mota Engil, Iberdrola ou BCP.
A avaliação do vendedor...

O que será isso?

É caso para se dizer o que será isso? Será que o que temos visto tem sido uma guerra misericordiosa? Alguma guerra o será?
O silêncio vai falar...

Cavaco Silva promulga Estatuto dos Açores mas volta hoje a falar aos portugueses.
O facto do presidente Aníbal António promulgar ou não o diploma é absolutamente irrelevante, assim como ele próprio… O que não é boa notícia é saber que ele vai falar, tenho como assente que o seu silêncio é a sua única virtude, já que tem sido em silêncio que tem assistido a toda a espécie de tropelias que o inginheiro e a sua pandilha têm feito e continuarão a fazer ao país. Por isso, e ainda com a agravante de estarmos em época de bolo-rei, temo que não vá sair nada de jeito, bem pelo contrário…
COMEÇA A SER TEMPO...

Muito sinceramente, este país não pára de me surpreender. Após ver alguns dos nomes dos ‘notáveis’ que foram escolhidos para os conselhos gerais da Universidades, apenas me apetecia propor uns tantos mas, infelizmente, não se trata de brincadeira e vendo a educação portuguesa a caminhar no sentido oposto do que penso seria desejável, com a tentativa de por a dar lucro uma coisa que é para dar custos no curto e médio prazo, que passará, inevitavelmente, pelo abandono da parte do estado do investimento no ensino e consequente privatização deste sector vital para qualquer sociedade que aspire a ser civilizada, apenas me apetece lutar contra a corja que há trinta anos tem tomado e controlado o poder no país.
domingo, 28 de dezembro de 2008
Os portugueses vivem tão mal...

"Os portugueses vivem tão mal e os livros são tão indecentemente caros!", criticou, em seguida, frisando que "que quem lê não são as classes altas, é a classe média baixa, como se pode observar nas feiras do livro".
É contra esta realidade que temos de lutar, os portugueses vivem muito mal… e cada vez vivem pior, pois o que chamávamos de classe média baixa são, agora, a nova classe de pobres com tanta educação como vergonha, que não aspiram a mais do que voltar a viver, remediadamente, na antiga situação de classe média baixa, isto é, que chegava ao fim do mês sem dinheiro mas sem grandes dívidas e que hoje, não só já não chega ao fim do mês, como vê acumular as dívidas sem saber o que pode fazer.
É a isto que conduziu a política portuguesa dos últimos tempos, uma política que apenas protege ou os que não trabalham ou os que se dedicam à agiotagem, tráfico de influências e negociatas, os outros são os fiscalmente ricos que, por serem tão ricos, são tributados até terem ficado irremediavelmente pobres…
É pena que quem nos finge governar não ouça estas vozes, mas apenas as que gulosamente lhes bajulam améns.
Entrevista a José Gil

Entrevista - José Gil
“Há um combate entre o sorriso de José Sócrates e a crise mundial”José Gil, filósofo, acusa o primeiro-ministro de ter um projecto de carreira pessoal, autocrático, com um sorriso permanente. E o Governo de andar de fato cinzento.
Correio da Manhã/Rádio Clube – Sente-se bem no País em que vive?
José Gil – Razoavelmente. Não me sinto muito bem. A minha relação com Portugal é uma relação difícil e pode compreender-se porque eu sou um filho de um ex-colono, que viveu em Portugal, no fundo, dois anos. Aos dezassete, dezoito anos e depois voltei depois de praticamente trinta e cinco anos vividos, uma vida vivida em outro País.
EP – Em França.
- Em França.
EP – Um dos grandes sucessos, o livro que escreveu ‘Portugal, Hoje – O Medo de Existir’, foi publicado em 2004 e retracta a instabilidade, o desnorte, o medo de existir, sobretudo, e também uma análise à actualidade de então. O livro é publicado ainda com Santana Lopes no poder. Hoje escreveria o mesmo livro?
- Escreveria talvez, isto não tem muito sentido, noventa e tal cento do livro. Noventa e tal por cento escreveria da mesma maneira. Se bem que muitas coisas tenham mudado.
ARF – Para melhor ou para pior?
- Umas para melhor, outras para pior. E isto não é para fazer um equilíbrio. Não. Parece-se que são coisas diferentes. O que evoluiu para melhor é diferente daquilo que evoluiu para pior.
ARF – E o que é que evoluiu para melhor em Portugal nestes quatro anos?
- Olhe. Parece-me que há em Portugal cada vez mais uma aprendizagem por parte da comunidade portuguesa e da sociedade civil da democracia, da democracia dos direitos. E isso é bom, isso parece-me melhor. Depois há um desenvolvimento individual da criação cultural. E isso também me parece muito melhor. De certa maneira há, curiosamente é paradoxal o que vou dizer, curiosamente há uma espécie de liberdade maior mas que não vem do poder político, é uma liberdade maior que vem dos conflitos, dos embates sociais, do facto desses embates aparecerem mos meios mediáticos e serem consciente na parte da população. Também o facto de Portugal estar cada vez mais consciente do que se passa, como se dizia antigamente, lá fora. Quer dizer, Portugal está cada vez mais lá fora, o que dá uma reacção cada vez mais dentro. E isto é devido certamente a reacções sociais, das pessoas.
EP – Mas é a mentalidade dos portugueses que está a mudar ou são os mais novos que nasceram já depois do 25 de Abril, da Revolução de 74, que já têm outra forma de pensar ou não?
- Não. Teriam outra forma de pensar, mas não têm. E não têm, primeiro, porque herdam uma velha forma dos pais. E naquilo que mudam na sua vida de adolescente, de jovem da universidade ou do trabalho, pura e simplesmente, eles vão encontrar umas estruturas, vão encontrar quadros de vida, escritórios, aonde encontram, aonde vão novamente ter de se moldar aos velhos comportamentos, às velhas mentalidades.
EP – Salazar ainda está na fonte.
- Ai, eu acho que sim.
EP – Mesmo nos mais novos?
- Absolutamente. Mesmo que seja subliminarmente ou inconscientemente ele está. É claro. Para mim é claro.
ARF – Ainda somos um País salazarento?
- Ai somos. Somos um País salazarento em certas coisas. Não é um País salazarento.
ARF – Claro. Mas o que domina, o que importa, o que fixa, como disse a propósito dos jovens, ainda é um certo ambiente cultural que os domina, que os leva a pensar assim e também a comportarem-se de uma forma pequenina, como refere. Os portugueses gostam de ser pequeninos?
- Os portugueses gostam de ser pequeninos. Sabe, muitas vezes eu comparo as reacções às reacções dos habitantes das ilhas. Eu conheci uma ilha, conheci muito bem uma ilha onde vivi, que foi a Córsega, e fiquei de tal maneira marcado por aquelas mentalidades que quando vim para Portugal eu era capaz de reconhecer, ao fim de dez minutos de conversa, que aquela pessoa vinha dos Açores. Sem saber mais nada, outro indício. Quer dizer, há qualquer coisa de muito específico no habitante da ilha. É que a ilha é como um corpo de onde se sai e para onde se volta quase necessariamente. É muito difícil as pessoas desligarem-se da ilha.
EP – Nós somos um povo ainda fechado?
- Nós somos um povo ainda muito fechado que se está agora, agora, agora, quando eu digo agora são meses a abrir-se assim.
EP- E quantas gerações são precisas para nos abrirmos?
- Não sei. Não sei. Se há coisa mais difícil de mudar é o que se chama mentalidades, não é?
ARF – Mas há aqui um paradoxo. Temos muito o espírito da ilha, mas fomos um Império. Andámos por todo o mundo, conhecemos o mundo há muitos séculos. Porque temos sempre esse espírito da ilha?
- Nós não temos sempre. Primeiro, lembre-se que o nosso Império é um Império desmedido para a nossa capacidade e para a nossa economia. Em segundo lugar, só para lhe lembrar assim frases, lembre-se que o Salazar chamava ao nosso Império a nossa quinta. Isto é típico. Quer dizer que o Império não constituía um horizonte. Quer dizer, digamos, uma palavra de que eu gosto muito, não era um fora. O fora é um desconhecido. Não. Eu não estou a brincar, nem estou a forjar o que quer que seja. Lembro-me que quando vim de Lourenço Marques para cursar a universidade cá havia pessoas que me perguntavam: “Há leões em Lourenço Marques? Passeiam-se na rua?” Está a ver o desconhecimento total.
ARF – Referiu que um dos aspectos positivos em Portugal nestes últimos anos era as pessoas conhecerem melhor a democracia e estarem a viver melhor a democracia. Mas isto está a incomodar o poder político?
- Claro que está.
ARF – A incomodar muito?
- Esse é o aspecto, se falarmos unicamente no plano político. Portugal não é o plano político. Não é. Felizmente é muito mais do que isso. Não vale a pena bater no ceguinho, toda a gente fala nisso, eu também. Há realmente uma nova tendência para o autoritarismo, para uma nova forma de autoritarismo.
EP – Arrogância?
- Arrogância, autoritarismo. Quer dizer, desprezo da democracia em nome da vontade autocrática de um governante ou dois.
ARF – É o que se passa no caso dos professores? Nomeadamente neste momento em que os professores estão na rua, manifestações imensas. Refere-se muito à não-inscrição. A não-inscrição neste caso é o Governo ignorar isso tudo?
- Totalmente. É um exemplo típico de não-inscrição. Totalmente. Não só não-inscrição. Há pior do que isso. Eu ouvi o secretário de Estado, como milhões de pessoas ouviram na televisão, o secretário de Estado Pedreira dizer, depois das assinaturas, isto foi há três dias.
ARF – O abaixo-assinado.
- O abaixo-assinado apresentado no Ministério da Educação. Dizendo, mas isso podia ser forjado. Quer dizer. Eu fiquei com vergonha.
ARF – Porque não era preciso apresentar a escola.
- Não era preciso apresentar. Poder-se-ia forjar.
ARF – As assinaturas.
- Quer dizer. Não são as 60 mil assinaturas. É o facto de forjar. Percebe?
ARF – Claro.
- Quando isto vem à cabeça de alguém isto revela a cabeça de alguém.
ARF – Exacto. Mas isso incomoda muito. Estas manifestações sociais, de protesto, de viver a democracia, que nós estamos a aprender lá fora, a perceber, a abrir?
- Deve incomodar. Deve ter incomodado um projecto pessoal que nós não conhecemos nem nunca conheceremos.
EP – De José Sócrates?
- De José Sócrates. Mas que temos indícios. Um projecto de carreira pessoal. Isto é tudo muito pequenino, não estamos a falar de grandes cultos de personalidade nem de grandes regimes autoritários, nem nada. Seria á nossa medida mas seria qualquer coisa de novo. E repare como realmente há condições para um novo tipo de obediência ao poder.
ARF – Neste momento reforçado com esta sensação de pânico e de crise que as pessoas estão a viver em que aparece o primeiro-ministro a dizer que vai salvar todos, não é?
- Absolutamente. E repare como é o único. Quando eu falo de autocratismo ou autocracia estou bem consciente que não estou só a falar do Governo, estou a falar sobretudo de uma pessoa. Isto pode parecer anódino, não significativo. Nós temos um Governo, mas um Governo cinzento, morno. Quem é que sobressai ali? Nada.
ARF – Podemos falar de vários nomes.
- Nada. De vários nomes e nada.
EP – Sobressaiam talvez pela parte menos boa.
- Menos boa, não sorriem, não estão contentes com a vida, parecem mais ou menos autómatos. Há ali pessoas muito inteligentes, não se vê nada, tudo aquilo é fato cinzento. E no meio, ou por cima ou ao lado há uma pessoa que tem um sorriso sempre até às orelhas, um dos sorrisos extraordinários que não pára, pára de vez em quando, e como se a vida fosse o triunfo quotidiano do progresso e essa pessoa é o primeiro-ministro. Não é esquisito isto? Aquele sorriso não deveria contagiar os mais próximos? O sorriso e os afectos é o que contagia imediatamente. E não contagia.
EP - Quais são os melhores governantes?
- Não vou nomear.
EP – Há pastas mais sensíveis do que outras. A pasta da Educação é sempre sensível, a pasta da Justiça e da Administração Interna.
- Não lhe sei dizer. Não sei comparar.
EP – Mas a avaliação que acaba de fazer, do cinzentismo. É um cinzentismo geral?
- É um cinzentismo que se estende em geral. Quem é ali a pessoa? Havia ali um ministro, que era o António Costa, que tinha a sua autonomia. Bem, a começar pelo ministro do Trabalho, que é uma tumba, a acabar na ministra da Educação, cuja espontaneidade expressiva...é isso. Falta espontaneidade expressiva aos ministros. São muito simpáticos, podem ser muito simpáticos pessoalmente.
ARF – E até inteligentes.
- Claro. Mas não é isso. Há qualquer coisa que faz com que eles não se manifestem em sorrisos nem sejam espontâneos. Ora isso é o sinal de que eles não pretendem sequer seduzir as pessoas.
EP – E isso passa para os portugueses? Esse cinzentismo passa?
- Passa com certeza.
EP – E pode ser o ponto fraco do Governo?
- Não, há outros. Ponto fraco do Governo é o facto de não ter ideias. Esse é o ponto fraco do Governo. Mas que passa, passa. Repare que há aqui um paradoxo muito grande aparente. O facto de haver manifestações e manifestações não só na Educação mas também em outros campos do trabalho, como os funcionários públicos e as sondagens darem sempre uma vantagem muito grande a José Sócrates. As pessoas estão perdidas, as pessoas e o português por excelência é um ser que está sempre a hesitar. O desassossego do Pessoa é também uma passagem contínua de um sítio para o outro, de um sítio para o outro. Estão sempre a hesitar. E quando aparece alguém que se mostra determinado, forte, etc, a pessoa fica fascinada. Aconteceu com Álvaro Cunhal, aconteceu com Cavaco Silva. Quando aparece assim uma pessoa que sabe o que quer. Pode saber muito pouco, pode ser estreitíssimo, mas sabe o que quer e é dirigente e tem a aura de ser dirigente.
ARF – E os portugueses ficam deslumbrados com esse cidadão?
- Absolutamente. Ora a identificação que os portugueses fazem com o Sócrates, para as sondagens darem os resultados que dão, vem de uma identificação pessoal. Não vem de uma identificação com a política geral do Governo. Porque logo ao lado as sondagens sobre a política do Governo não correspondem a essa sondagem sobre Sócrates.
ARF – Exactamente. É diferente.
- É portanto qualquer coisa de pessoal. É uma relação pessoal. Enfim, ali temos uma referência. Agora, nós que não temos referência de nada, sobretudo do futuro que aí vem, há ali uma pessoa que não só sabe ou parece saber o que quer como está contente. Ainda para mais está satisfeito previamente com o futuro que vai vir. Seguimos uma pessoa assim.
ARF – Somos um bocado fatalistas nisso. É o Salazar, o Cavaco, o Cunhal, agora é o Sócrates e agora não há na oposição ninguém com esse espírito. Uma pessoa que nos inspire essa admiração. O homem ou a mulher estão contentes nós vamos segui-lo de forma acrítica, um bocado como a carneirada, não é?
- É mas também é outra coisa, sabe? Não é só carneirada no sentido pejorativo. É também necessidade de um líder e um líder é um chefe político que tem propriedades muito importantes como o de condensar, atrair uma série de forças e poder utilizá-las para o bem da comunidade. E pode deixar de ser líder, como em certas sociedades, meses depois. Mas durante aqueles meses em que foi líder é uma personagem venerada e que é necessária para a comunidade.
EP – Não se percebe muito bem. Cá está, é a mentalidade dos portugueses ou talvez por não haver uma oposição forte. Se por um lado se manifestam nas ruas contra as políticas do Governo, não só na Educação, por outro quando há uma sondagem o primeiro-ministro continua a subir. O que é que se passa na cabeça dos portugueses?
- É isso que eu quis explicar, enfim, na medida em que isso é possível. As pessoas identificam-se enquanto egos. Quer dizer, eu na minha pessoa sou uma pessoa insegura, incerta, cheia de hesitações, não sei o que fazer e tenho ali, eu, no fundo, identifico-me pessoalmente com o Sócrates.
EP – Nisso José Sócrates é bom?
- Muito bom. Perfeito, como sabe. Não é que seja um grande sedutor, é um bom orador, energeticamente contagiante, ora os portugueses estão ávidos de carisma. Não é que ele tenha carisma, mas o carisma é-lhe atribuído. E portanto recebe-se o carisma por refluxo. É aquilo que se dá e o que se recebe.
ARF – Isso não é também pelo facto de os portugueses terem medo de existir? É verdade isto? Precisam de alguém que tome conta deles, que os proteja, que lhes indique o Governo?
- Eu acho que é verdade e tem raízes históricas muito grandes e que foi sedimentado fortemente durante o salazarismo e que tem a ver com qualquer coisa que existe na sociedade portuguesa. Que é o facto de o português não atingir a maturidade.
EP – Precisa sempre do outro?
- Precisa sempre do outro, há qualquer coisa de adolescente no adulto, na sua estabilidade emocional, emotiva, no seu poder de iniciativa, no seu poder de risco em relação a si próprio.
EP – Podemos dizer que esta não é só uma crise económica?
- Está a falar de Portugal?
EP – Sim.
- Mas qual crise. É que agora nós temos duas, três. Antes da crise mundial já havia uma crise em Portugal. Agora já não há porquê?
ARF – Agora são muitas crises.
- É, não é?
ARF – E esta está a assustar muito mais as pessoas.
- Claro, porque já estavam assustadas e esta não depende de nós. Vamos ver, Agora há um embate, uma espécie de combate entre o sorriso do Sócrates e a crise mundial.
ARF – Agora vamos ver como se resolve.
- Bem, estamos a ver já as primeiras transformações. É que o sorriso já esmoreceu de há uns dias para cá.
EP – E no próprio Governo, não é?
- O Governo nunca teve sorrisos, excepto o ministro Lino, que ri de vez em quando fazendo gafes.
ARF – Voltando à Educação. Sempre tivemos um grande défice na Educação. Os alunos são mal preparados no liceu, chegam à universidade mal preparados e chegam à vida real mal preparados. Este processo nunca foi resolvido nestes anos de democracia. E cada vez está pior, não está? De preparar as pessoas para terem um olhar lá para fora? Como professor universitário não acha isso?
- Eu não posso falar ainda porque está a ser desenvolvido, está a começar a reforma universitária, mas no que diz respeito à reforma do ensino secundário eu acho, hoje acho que é um desastre. Lamento profundamente, tenho uma amargura profunda. Olhe, eu aí tenho uma amargura pelo meu País. Realmente. Realmente eu esperava qualquer coisa, e espero ainda não sei como. Porque é isso que vai mudar o País. Nós vimos de muito longe, de muito longe de analfabetismo, de iletracia, de pobreza. Somos um País secularmente pobre em tudo. Mentalmente e materialmente pobre. E era uma maneira agora de se transformar tudo.
ARF – Foi uma oportunidade perdida?
- Estou convencido que as reformas que estão a ser realizadas não vão transformar o nosso País.
ARF – É muitas vezes acusado de ser um pessimista por aqueles que não gostam de ouvir algumas verdades. É pessimista, optimista, isso pode-se classificar assim o que diz e analisa sobre a sociedade portuguesa?
- Eu já me expliquei várias vezes sobre isso. Eu acho que pessimismo, optimismo são atitudes que se têm em relação a uma linha histórica qualquer. Se se está convencido que essa linha vai para pior é-se pessimista. Se não é-se optimista. Mas são atitudes. Saber se intrinsecamente se é optimista ou pessimista, eu estou convencido que é muito difícil encontrar verdadeiros pessimistas. Porque aqueles que são pessimistas e que segregam, nos seus livros, nos seus artigos o pessimismo no fundo estão a alimentar o seu optimismo visceral, vital, que é de viver, é de gostar de viver com essa actividade de ser pessimista. Mais nada.
EP – Há pouco falava nos 40 anos que esteve fora de Portugal, nos anos que viveu em França, País em que se licenciou e doutorou. Chegou a Portugal em 1976 e fez parte do Governo provisório. Como é que foi recebido quando cá chegou pela comunidade filosófica?
- Não havia.
EP – E por outros sectores académicos?
- No fundo não havia comunidade filosófica. Tenho unicamente a lembrança de ter sido muito bem recebido pelo Fernando Belo, o professor Fernando Belo, que está jubilado agora. E mais ninguém, mais ninguém. Aliás, eu não estava ligado, nem em contacto com a comunidade filosófica. Eu era assessor do secretário de Estado.
ARF – Em 1976. Veio e foi-se embora outra vez.
- Foi.
ARF – As comunidades reagem mal às pessoas que fazem a vida lá fora, reagem mal aos estrangeirados? Faz parte também da forma como encaramos o mundo, o lá fora? É inveja do sucesso?
- Quando a pessoa vai lá para fora e vence. Porque há muitos portugueses e houve muitos portugueses que foram lá para fora e não venceram. Até acabaram muito mal. E eu conheci, até pessoas com talento. O exílio, quer seja forçado ou voluntário, é muito difícil, é muito duro. Muito duro. E há os que viviam, por exemplo, em Paris e constantemente existiam na Avenida da Liberdade em Lisboa. O que lhes interessava. Quer dizer, nunca foram contaminados, nunca tiveram um embate com uma sociedade extremamente dura, se bem que fossem bons tempos, os tempos do gaulismo. Dura porque era uma sociedade fechada também para os estrangeiros, era muito difícil entrar em famílias francesas, conhecer o modo de vida francês, por dentro. Mas como é uma sociedade, uma cidade extraordinária, Paris, havia sempre um cosmopolitismo, para empregar esta palavra, que era absolutamente extraordinário. Agora, isso para dizer o seguinte. As pessoas tinham inveja dos que iam lá para fora. Nós deixámos de ter aquilo que em psicanálise se chama os benefícios secundários da neurose. Quer dizer que não temos a almofadinha da mamã, estamos mal com a noiva ou estamos mal com a namorada corremos logo para a almofadinha da manhã. É um exemplo caricato mas é isso. Que nós tínhamos aqui, que eu tinha aqui. E quando se vai lá para fora deixa-se de ter.
EP – Ainda hoje é assim.
- Ainda hoje é assim. Ainda há os benefícios secundários. É pena.
EP – Eu estou a perguntar se ainda hoje é assim.
- Não. Já é diferente. Primeiro, a comunidade portuguesa agora é muito diferente porque é uma comunidade de segunda geração, terceira geração.
EP – Foi considerado um dos 25 grandes pensadores de todo o mundo por uma conceituada revista francesa. Como é que reagiu a isto e sendo em França?
- Já não reajo, isso é uma coisa. Há 25, há tantos, tantos que não estão lá, portanto não vale a pena falar disso. Há tantos, tantos.
EP – Vale a pena porque é um pensador português e foi a França, o País onde estudou e viveu que lhe dá este mérito.
- Sim. E então? O que é que quer saber? Se eu gostei?
EP – Se gostou.
ARF – Teve alguma reacção negativa em Portugal? Esse facto levou as pessoas a encarar o professor José Gil de uma forma invejosa?
- Ah sim. Até houve um episódio que não foi muito agradável com um grande amigo, que não vale a pena estar a evocar. Houve um episódio desse tipo porque, enfim, sempre histórias de inveja.
ARF – Inveja, sempre.
- Sim, são histórias de inveja.
ARF – Há bocado estávamos a falar da crise e perguntou qual delas, porque há várias crises. Mas esta crise económica e financeira mundial que nos está a atingir em força, apesar do sorriso do primeiro-ministro, não é uma oportunidade para nós alterarmos a nossa forma de estar no mundo e estar na vida?
- Claro, teoricamente pode ser, mas acha que vai ser? Nós vamos ser obrigados a viver de outra maneira. Comos e sabe, ninguém sabe nada da crise. Mas suponhamos que realmente a crise vai durar dez anos, ou vai durar quinze anos. Quinze anos é muito tempo e nós vamos ter de mudar, vamos ter de mudar de maneira de viver, a nossa comunidade vai modificar-se, a relação ricos/pobres vai modificar-se em Portugal. Em quinze anos de crise vai haver muita coisa que se passará, muita água que passará debaixo das pontes com certeza. E nós vamos ter de nos adaptar. Agora, o que é que significa crise durante quinze anos? Se vai haver muita coisa que vai acontecer. A minha ideia, a ideia de toda a gente quando diz uma crise durante quinze anos é que vai ser cada vez pior, lentamente, no sentido de que nós vamos perdendo os pequeninos privilégios, a pobreza vai aumentar, vai atingir cada vez mais classes médias.
EP – Mas ai pode vir outra carga de pessimismo.
- Pode vir até muita outra coisa, sabe.
EP – Ou seja, os portugueses têm motivos para serem pessimistas?
- Têm. Mas que portugueses? Sabe que venda de carros de alta gama aumentou.
ARF – O fosso entre ricos e pobres aumentou imenso.
- E pior. Quer dizer, melhor. Aumentou e esse fosso que era encoberto, que se escondia, por várias razões, até porque os pobres escondiam, esse fosso vai aparecer à tona. E quando aparecer à tona vai ser uma das realidades quotidianas da nossa vida. E isso vai modificar muito a nossa maneira de percepcionar o outro, o outro português e de nos percepcionarmos nós mesmos enquanto colectividade. Não sabemos o que vai acontecer.
ARF – Essa realidade vai aumentar os laços de solidariedade entre os portugueses? Perceber o outro de forma diferente?
- É possível. A sociedade portuguesa guarda um capital muito forte ainda do que se perdeu muito nas sociedades hiperdesenvolvidas ou as sociedades europeias. Que é o capital afectivo. Pode parecer, e é verdade que houve uma diminuição dessa afectividade social. Mas quando um estrangeiro vem a Portugal e vê os portugueses e vê como é recebido, tratado, falado reconhece, percebe isso, percebe que há ali qualquer coisa que já não tem no seu País. E isso chamo uma afectividade colectiva que existe cada vez menos, como sabe nas grandes cidades portuguesas. Mas que Portugal tem ainda.
ARF – É um capital.
- É um capital que está a ser desbaratado e está a ser desbaratado entre outras coisas porque nas grandes reformas com um modelo de gestão e da modernização não há lugar para esse capital afectivo.
ARF – Refere-se a que reformas?
- Reformas da modernização, que não são só portuguesas, de toda a sociedade europeia. Mas em Portugal, que quer ser realizada e posta em prática por estes governantes de hoje.
EP – Que países é que podíamos ter como referência?
- Como referência? Não sei. Eu não sei que referência. Mas se está a falar ainda em capital afectivo possivelmente a Irlanda, onde isso existe.
ARF – E isso tem reflexo na vida do País e do seu desenvolvimento.
- Com certeza.
ARF – O professor diz que Portugal não tem um projecto de futuro. É verdade isto?
- Isso é evidente. É isso mesmo que não existe numa política. Veja. A política da modernização é uma política que está a crer no fundo alargar um certo espaço presente em que as relações de gestão, as relações entre as pessoas dentro de uma empresa, de uma instituição são determinadas por avaliações, por simplificações de actividades, pela produtividade, pela deslocalização do trabalho. Nisso não se toma em consideração absolutamente a questão afectiva. Isto poderá fazer rir. Mas que faça rir é que é pena. Mas quando se fala, por exemplo, em alargar o período em que a mulher pode ficar em casa depois da maternidade nós estamos a falar de uma afectividade que é tomada em conta pelo Estado. E isso é muito importante.
ARF – E o marido poder ficar em casa também.
- Isso. E ter em conta a afectividade, tão premente nos portugueses hoje, ainda, é fazer com que precisamente se corrijam todas as desumanizações que implicam critérios, como os critérios de avaliação.
ARF – Como estamos a ver nos professores.
- Claro.
ARF – E agora vai chegar também aos professores universitários.
- Vai ser isso.
EP – A propósito da afectividade. Na mensagem de Natal do primeiro-ministro, além de se falar no ano difícil, Sócrates agradeceu os sacrifícios feitos. Há uma tentativa de criar laços afectivos com os portugueses?
- Possivelmente. Mas eles não sabem é o que é a afectividade. O discurso do primeiro-ministro é um discurso absolutamente frio. Aquilo é retórico. Mesmo que ele sinta. Ele não está com as pessoas. Estar com as pessoas é precisamente o contrário, é ter uma palavra, saber que aquilo é uma pessoa, antes de ser um elemento ou agente político ou eleitoral. É uma pessoa. Claro. Agora há a política. Como é que eu vou fazer entrar a pessoa dentro da política, tudo isto são problemas que ele não põe.
ARF – Como é que este povo e estas pessoas votam normalmente à esquerda? O que é que a esquerda significa para as pessoas? Ou não entendem o que é esquerda e direita?
- Eu acho que isto tem a ver com 25 de Abril ainda. Não por ser o 25 de Abril. Mas tem a ver no fundo com o facto de o 25 de Abril ter modificado completamente uma desastrosa história da nossa sociedade. Há sítios no Marão em que se divide o tempo cronológico entre no tempo em que eu não comia bifes e depois do 25 de Abril é o tempo em que eu passei a comer bifes. Bom. E quem trouxe os bifes? Foi a esquerda. Mas não foi só os bifes. Os portugueses gostam da liberdade. E vê-se, viu-se logo quando puderam votar. As pessoas não são parvas.
EP – Mas como é que essa esquerda, a do 25 de Abril e a da agora, está?
- Pois. A esquerda está pelas ruas da amargura. Quase. Quase. Só não está porque a direita ainda está pior. O melhor aliado da esquerda é a direita.
EP – A direita precisa dessa figura de líder?
- Absolutamente. Precisa de uma figura de líder. Não creio que a doutora Manuela Ferreira Leite seja uma líder. Poderá ser tudo, do ponto de vista da competência, mas não tem qualidades de líder e qualidades políticas. E vamos assistir ou à sua substituição ou a mais um triunfo por negação de José Sócrates.
ARF – Agora a União Europeia, em que Portugal está desde 1986. A UE vai no bom caminho ou está a cometer erros históricos que podem ser graves no futuro próximo?
- Tem cometido muitos, como sabe. Tem cometido muitos. Agora, resta saber o que se quer da Europa. E voltamos sempre à mesma questão.
ARF – É federalista?
- Eu sou, sim, sou. E até por um federalismo tal que pudesse fazer coexistir uma Europa sem fronteiras geopolíticas com uma Europa que possa ter o peso económico que sustenha toda uma cultura da Europa que se está a perder. Quero eu dizer. A Europa é um território, se quiser, que fez a história, que fez a inteligência do homem. É um território e é mais do que um Estado, uma superpotência. É muito mais do que isso. Há qualquer coisa na Europa que faz dela uma fonte permanente de invenção. E agora estamos a ser invadidos pela cultura de massa americana. E isso é um drama para nós todos.
EP – É uma não-afirmação?
- É uma não-afirmação da Europa. Absolutamente. O drama, o dilema é que para que haja afirmação da Europa é preciso que ela se torne numa superpotência militar, económica. E isso é capaz de acabar com a Europa e fazer da Europa um Estado Nação banal, federal. Temos de inventar uma nova Europa.
ARF – Esta Europa que conhecemos é uma Europa fortaleza. Tem medo dos imigrantes. Também tem medo do fora, de tudo o que vem de fora.
- Claro. Tem medo. Nós vivemos numa espécie de equívoco quase realizado. Por exemplo. A questão da Turquia. Do ponto de vista dos princípios nós temos de admitir que a Turquia entre para a União Europeia. Do ponto de vista prático nós não podemos deixar entrar para a Europa um País que não segue as regras democráticas. E que por outro lado pode ser realmente uma via de entrada do fundamentalismo.
PERFIL
José Gil, autor de várias obras sobre Filosofia, Artes, Dança e Literatura, nasceu em 1939 em Muecate, Moçambique. Aos 18 anos foi para França onde se licenciou em Filosofia na Faculdade de Letras da Sorbone, em Paris, em 1968. Anos mais tarde doutorou-se em Filosofia na Universidade Paris VIII. Em 1976 regressou a Portugal e foi assessor do secretário de Estado do Ensino Superior do IV Governo Provisório. Em 1981 entrou na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa como professor convidado, onde hoje é professor catedrático.
António Ribeiro Ferreira (Correio da Manhã), Elisabete Pato (Rádio Clube)
sábado, 27 de dezembro de 2008
E porque não uma almoçarada?

Como ler esta notícia…
1º aspecto: abrir a campanha eleitoral com novas promessas; após toda uma legislatura a afrontar e a desagradar a toda a sociedade, surge agora esta miserável expressão de que se for governo, após as legislativas de 2009, fará o contrário do que fez entretanto… À primeira todos caem, à segunda só cai quem quer… votem primeiro, que depois blá, blá, blá… Lixem-se!
2º aspecto: “aceitando entre si que não avançariam com uma moção de estratégia ao congresso, uma vez que receberam sinais de que tal atitude podia ser vista como um acto hostil a Sócrates.” Não é novidade, Sócrates ou atemoriza os adversários ou compra-os com cargos, o que é necessário é que seja temido e não seja contrariado. Os cobardes e interesseiros, como gostam dos seus tachos, têm que ter cuidado e perceberem bem os sinais que recebem do líder Eduardo do Santos, perdão, José Pinto de Sousa, mais conhecido por Sócrates.
3º aspecto: “Ainda há uma semana, Vera Jardim, em entrevista ao Rádio Clube Português, frisou o risco de cisão, sublinhando a necessidade de calma.” Para que o amo ganhe e possa continuar a reinar em plena tirania é necessário que obtenha maioria absoluta, ou muito significativa, pelo que é imprescindível não haver cisões no MPLA, perdão mais uma vez, no PS. Pois, se houvesse essas cisões a distribuição de panelas poderia ficar comprometida e poderiam ter que abrir um BPN ou coisa parecida, nomeadamente com o receio da cisão Alegre, um mito bufo e vazio, pois, como ainda não o fez já não o fará nem está interessado em fazer, o que o remete para o reino dos mais ignóbeis fala-baratos deste país, os que gostam de escrever e clamar a coragem, mas nem sabem sequer o que é, pois são uns medrosos estruturais.
Conclusão: mais do mesmo. Lembro o poeta, esse verdadeiro e sério: não se nasce impunemente nas praias de Portugal…
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
As evidências não se precisam de dizer...

Não é preciso o senhor procurador-geral da república maçar-se a vir dizer estas coisas, caem mal e são desnecessárias e são desnecessárias porque caem mal… o que é evidente, não precisa de ser dito e se o é, é porque a sua evidência não o é de facto, contra isso já nada se pode fazer, e muito menos dizer… Falamos, portanto, de algo que os portugueses bem sabem como é, como funciona e os exemplos são tantos que as palavras se tornaram, há muito, absolutamente desnecessárias. A lei é igual para todos, só que para uns é mais igual do que para outros…
Quanto ao fim do sentimento de impunidade, num país onde a própria casa do procurador-geral da república é assaltada, o filho do primeiro-ministro é assaltado em plena rua, o filho do presidente da comissão europeia é apanhado com uma quantidade de haxixe superior ao que é considerado para consumo, onde tanto isto e tanto aquilo, se ouve nos telefones publicitado depois nas televisões, casapiando toda a sociedade, está tudo dito. Uma vez mais, fica mal ao senhor procurador-geral da república, ou seja a quem for que tenha alguma responsabilidade na administração da lei e da justiça, dizer o que quer que seja. Em Portugal, quase sempre, caladinhos estamos melhor.
Será este o nosso fado?

A primeira é que se tratou de um caso encomendado, pois não saberá o Manuel que casos graves de indisciplina, muitos bem piores do que esta parvoíce, são o quotidiano das nossas escolas? Está muito mal informado, não é preciso encomendar situações destas, elas são naturalmente abundantes.
A segunda é que se tratavam, veja-se o português: “os alunos, numa situação destas, são alunos de qualidade,” eu sugeria, no mínimo, o adjectivo duvidosa… mas, ok, que sejam repreendidos e que prometam não voltar a usar armas falsas.
A última e a minha preferida, é que os telemóveis deveriam ser proibidos no espaço de aulas. Ora, como o Manuel também é Valente, eu sugeria que ele fosse às escolas tirá-los aos alunos… Gostava de ver como é que ele o faria… colocava-se à porta da escola e, depois de revistar os alunos, ia atirando os aparelhitos para um bidão que no final seria enviado para a reciclagem? Ia de sala em sala? Não sei, mas gostaria de saber quais são as suas propostas para resolver este assunto. E, já agora, como tencionaria ele sobreviver aos alunos e aos seus paizinhos, já que deve ser especialista em psicologia de pais… Não sei, mas gostava…
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
Ecological crime in Vatican...

Até que num dia destes chegou um engenheiro florestal, parou, observou-o e disse-lhe, com voz de especialista:- És o maior exemplar e o mais bonito de todos desta zona.Ao ouvi-lo, algumas folhas dos ramos mais baixos coraram de vergonha, enquanto toda a árvore se pavoneou de vaidade, aproveitando um intervalo da ventania que ali soprava forte, sabendo bem que as árvores suas vizinhas, ao ouvirem aquilo, ficariam roídas de inveja.Alguns dias mais tarde, o engenheiro voltou, mas desta vez com dezenas de operários e um grande camião com uma grua de todo o tamanho. Quando ouviu o som nauseabundo das moto-serras, o velho e garboso abeto percebeu logo que tinha chegado a sua hora.Ainda tentou reclamar:- Afinal, não me tinham dito que era o mais belo, alto e proporcionado abeto deste bosque? Então porque é que me matam?Ouviu então uma resposta que arrepiava, e que tinha tanto de loucura como de cinismo:- Meu caro, tens muita sorte, é o que te digo! Na verdade, o teu cadáver irá ser a prenda do nosso grande país, a Áustria, ao país mais pequeno do mundo, o Vaticano. Iremos instalar-te no centro de uma conhecidíssima praça, a praça de São Marcos, no Vaticano, para que todos admirem o teu cadáver. Enfeitaremos o teu corpo com milhares de bolas e enfeites, luzes e luzinhas a apagar e a acender, antes de, no topo, depositarmos uma estrela polar. Um coro de crianças dar-te-ão as boas vindas, e cantarão bonitas canções. Infelizmente já não as poderás ouvir, porque já estarás morto. O teu cadáver ficará assim exposto por alguns dias, até ao dia 2 de Fevereiro para a glória da Áustria e do Vaticano. Serás assim o símbolo do nascimento de Cristo e da vida eterna, prazer que, no en tanto, já não vais gozar porque assim decidiu o engenheiro florestal que te encontrou. Milhares pessoas, que te irão visitar, hão-de tirar fotografias do teu cadáver para mais tarde te recordar.Espantado e incrédulo, a árvore gigante ainda perguntou:
- E depois?
- Bem, depois…, depois de 2 de Fevereiro vão-te lançar à lixeira, ou mandar-te para alguma incineradora nos arredores de Roma…. !!!
Desgraçadamente este não é um conto de fadas. É sim a triste realidade dos dias de hoje, no Estado eclesial do Vaticano, de acordo com um costume idiota, iniciado…. com o Papa João Paulo II !!!
Será que é tão difícil para a Igreja e a Cúria Vaticana salvar a vida destas árvores de enorme porte e que são um hino à mãe-natureza? Será que às suas consciências não pesará o pecado ecológico de serem cúmplices e autores morais dos assassinatos destas portentosas árvores, já para não falar do desperdício de energia que o seu transporte e a alimentação das luzes vai representar?
Que as imagens da chegada do cadáver de mais uma vítima inocente sirva de reflexão a todos nós sobre a frieza, a insensibilidade e a falta de respeito do Vaticano para a mãe-natureza, em particular para estar bonitas e majestosas árvores que são os enormes abetos das montanhas alpinas.
Tradução livre do um texto encontrado em:
http://blogs.20minutos.es/cronicaverde




quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Prémio porquemedizem

Nem vê nada, acena...

Código do Trabalho: PS vai estudar formas de retirar inconstitucionalidade.
Estes personagens pardos irritam-me, quase tanto como aqueles cãezinhos que antigamente colocavam na parte de trás dos carros e que, ao menor movimento, acenavam assertivamente com a cabeça… São, numa linguagem piscatória, verdadeiros xarrocos…
Profs esperam que ministério cesse...

Duas propostas excelentes, poder-se-iam definir como um título do livro de Irene Lisboa: Uma mão cheia de nada, outra de coisa nenhuma… Se as classificações não servem nem para os concursos nem para a progressão na carreira, para que servem? Se concorrer anualmente era um direito dos professores, de que serve a mísera possibilidade de um concurso de 2300 titulares, e de todos os outros, poderem concorrer a uma hipotética pena de quatro anos.
Boas festas, que o Pai Natal seja generoso convosco como parece que está a ser connosco, nós para o ano cá continuaremos, a equipa do ministério não.
E se promulgar também não...

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
EM QUE ASPECTO?

Prenda do Pai Natal

É o que se chama uma notícia de Natal... após os ataques israelitas dos últimos dias, esta é uma notícia muito preocupante, a ser verdade, e os israelitas e americanos devem sabê-lo, a lógica é verem-se forçados a jogar na antecipação e a atacarem antes da instalação dos novos sistemas antimísseis... Quem sabe o fogo de artíficio chega antes do fim do ano...
Post 500
O caminho do Caos...

Nua e crua, a verdade tem a tendência para emergir, mau grado todas as tentativas para a esconder por baixo do diáfano fluido que dá pelo nome de demagogia ou mentira. Num país em que a zurraria política apregoa o ensino, a formação e a qualificação da população, por todo o lado se vê cortarem os meios que as permitiriam, custam dinheiro e não produzem números positivos para apresentarem na balança fria e calculista do deve e haver do curto prazo…
Pois é, a educação não é nem deve ser vista como um negócio, é um investimento a longo prazo, o tempo de uma legislatura não chega para colher os louros desse investimento, logo diz-se que se faz, mas, na realidade e pelo contrário, acaba por se fazer o inverso. Contudo, para as estatísticas sobra sempre o último item, a qualificação… É um aspecto muito importante, mas é quando assenta no resultado de um investimento sério nos dois primeiros pontos, mas custa dinheiro, preferível é, para os números, a falsidade de qualificar sem gastar, que em vez de qualificar certifica. Isso é bom para quase todos: para o estado que vê os números das estatísticas aumentarem sem gastar um chavo e para os certificados que ficam com habilitações que nunca teriam e que estariam longe de algum dia virem a possuir. O que estraga tudo é o quase… e esse é o interesse do país e a seriedade das suas instituições académicas, já que de nada valem qualificações se a elas não corresponder uma aprendizagem real e verdadeira.
domingo, 21 de dezembro de 2008
Cada vez mais socrático...

VAMOS AO ANÍBAL ANTÓNIO...

sábado, 20 de dezembro de 2008
A SOPA DOS POBRES...
Agora fica chocado? Com quê? Com quem não quer ser trucidado? És uma ínfima parte de coisa nenhuma e não trucidarás ninguém, compra um dicionário e aprende a conhecer as palavras...
Se ficas tão estupefacto com estas coisas, lembra-te daquilo que dizes... Ver-nos-emos, certamente, na sopa dos pobres para onde o governo Sócrates está a mandar os funcionários públicos... O último grande defensor disso foi Sidónio Pais e foi morto a tiro em 1918...
A coisa arranja-se...

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Maria, traz-me o chá...

Cavaco recusa comentar possibilidade de dissolução da Assembleia sugerida por Eanes."
Tens medo compra um cão...

“Governo lamenta ter ficado sozinho a lutar pela avaliação dos professores.”
Mais uma vez a falta de respeito deste injinheiro é fantástica… Ele está a esquecer 140 mil professores, nós ficámos com ele, não fomos para lado nenhum nem nos escondemos, ele é que não quer aparecer. Continuamos a esperá-lo a ele, às suas teorias de melhoria do ensino e às técnicas dos exames por fax aos domingos.
Estamos cá, não está sozinho… De lados opostos, claro, mas isso para o dirigente de um partido popular de esquerda moderada é a oportunidade para dialogar... Aproveite.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Bom Sinal...
Presunção e água benta…
Só lhe faltou dizer que ele e os seus ministros também são moderados e populares…

120 mil professores a exprimirem ao PS e a Sócrates a sua popularidade
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Mais direitos perdidos?

Veja-se, a actividade lectiva é, no meu entender, muito sui generis, acontece com frequência um docente dar-se mal numa escola, antes era relativamente simples, no final do ano mudava-se de escola e estava o assunto arrumado. Com este modelo fica-se preso a uma escola, agrupamento ou lá o que é por quatro anos, podem ser muito bons, mas também podem ser um verdadeiro inferno… Imagine-se a seguinte situação, que é também muito frequente dentro da nossa classe: um professor anda por aí, é colocado numa escola em determinado lugar, conhece por lá alguém, casa-se e muda-se para lá. Imaginemos que as coisas não correm bem e essa pessoa se divorcia, pergunto é justo obrigá-la a permanecer lá mais dois ou três anos? Aliás, alargo a questão, é justo e benéfico manter alguém numa escola contra a sua vontade? E se o concurso corre mal? Tem que se cumprir uma pena de quatro anos?
Desculpem, mas não concordo e penso que se deveria lutar contra isso… Já me aconteceu, várias vezes, ficar colocado num sítio que não me convinha, cheguei a estar um ano nos Açores por falta de vaga no continente, mas pensava: que se lixe é só um ano… Pergunto, como se sentirão as pessoas que ficarem colocadas a centenas de quilómetros de casa e a saberem que têm que cumprir a pena, que sem culpa nenhuma lhes atribuíram?
Depois, confesso não perceber muito bem qual é a vantagem, abrindo os quadros de escola, só se concorria para as vagas que existissem, quem não quisesse sair não saía, logo a estabilidade do corpo docente estava garantida, como acontecia antes de começarem a fechar os quadros de escola.
Por tudo isto, penso, que uma vez mais, nos estão a roubar os nossos direitos e a ser amesquinhados na nossa profissão.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
LATA NÃO TE FALTA...




Soares filho com um amigo sério...
Histórias de Angola...

DESTAQUE - ANGOLA E PORTUGAL, AS “LIGAÇÕES PERIGOSAS” DE MÁRIO E JOÃO SOARES
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Angola e Portugal, as “ligações perigosas” de Mário e João Soares
Acácio Barradas *
A amizade e a admiração que durante muitos anos aproximaram os Soares, pai e filho, de Jonas Savimbi, estão na origem de vários episódios que ensombraram as relações entre Angola e Portugal.
Lisboa - A guerra de palavras que por vezes se verificou entre Angola e Portugal teve em Mário Soares e no seu filho João Soares dois destacados protagonistas. O folhetim teve início logo em 1975, na data da independência, pois Mário Soares, então ministro dos Negócios Estrangeiros do VI Governo Provisório, seria considerado co-responsável pelo regresso a Lisboa de um avião que levava a bordo uma representação (não oficial) portuguesa. Tal avião foi impedido de atingir Luanda, sob pretexto de que a capital angolana estava debaixo de fogo e não havia condições para aterrar, o que se provou ser uma falsidade.
Recordando mais tarde, numa entrevista ao Diário de Lisboa, o clima que então se vivia nas altas esferas lisboetas, Álvaro Cunhal afirmou que, durante uma reunião do Conselho de Ministros em que participavam os líderes dos principais partidos e a Comissão de Descolonização, esta – constituída por militares do MFA – «propôs o reconhecimento, no dia 11, do Governo que se formasse em Luanda. Mas Sá Carneiro e Soares opuseram-se energicamente a tal solução. Entravam e saíam da sala. Interrompiam a reunião para “informarem” que as tropas sul-africanas pelo Sul, e da FLNA, pelo Norte, estariam em Luanda dentro de poucas horas. Diziam que Luanda estava já a ser bombardeada». E Cunhal concluiu: «Com toda a evidência, Mário Soares e Sá Carneiro jogaram, nesse momento, em cheio na invasão de Angola».
A cerimónia da independência foi assim privada da presença de representantes portugueses, mas o Presidente Agostinho Neto soube interpretar devidamente essa ausência, dirigindo uma mensagem de amizade e de solidariedade ao povo português e às suas forças progressistas.
Em Janeiro de 1976, encontrando-se de visita aos EUA, onde foi recebido pelo secretário de Estado Henry Kissinger, Mário Soares proferiu uma conferência na Universidade de Yale, defendendo para Angola uma solução negociada entre os três movimentos e desmentindo que Lisboa venha a reconhecer o Governo do MPLA. A realidade, porém, encarregar-se-ia de o desmentir logo no mês seguinte.
Anos depois (em 1984), Mário Soares encontrar-se-ia em Washington com Alexander Haig, ex-secretário de Estado de Ronald Reagan, depois deste se ter avistado com Savimbi. Tal coincidência foi interpretada pela ANGOP como «uma cruzada de submissão aos mais altos interesses de Washington».
A partir de 1986, entra na liça João Soares, que na qualidade de proprietário da editora Perspectivas & Realidades foi abordado pelo dirigente da UNITA, Alcides Sakala, para a publicação de um livro com poemas de Savimbi. Na sequência deste contacto, João Soares desloca-se à Jamba, perante os protestos da Embaixada de Angola em Lisboa. Após a visita, João Soares elogia Savimbi: «É um grande líder político contemporâneo na África de hoje». No ano seguinte, a pretexto de interceder pela libertação de dois cooperantes suecos que a UNITA fizera reféns, João Soares volta ao quartel-general da UNITA, na Jamba. E quando, em 1988, o Governo português recusa a Savimbi o visto para entrar em Portugal, João Soares concede uma entrevista ao semanário Expresso, em que afirma: «O MPLA não é o Governo legítimo de Angola».
Entretanto, no Palácio de Belém, Mário Soares, na qualidade de Presidente da República, agracia com a Ordem do Infante Dom Henrique o empresário Horácio Roque, cuja mulher, Fátima Roque, acompanha Savimbi num périplo por vários países.
O ano de 1989 é marcado pelo acidente aéreo de que em Setembro são vítimas, na Jamba, João Soares e outros deputados (Rui Gomes da Silva, do PSD, e Nogueira de Brito, do CDS), que tinham ido assistir ao Congresso da UNITA. O Cessna em que voavam para a Namíbia caiu, segundo alguns, por excesso de carga no tráfico de marfim, o que foi negado pelo respectivo piloto. João Soares ficou ferido e convalesceu em Pretória, em casa do casal Horácio e Fátima Roque.
Um mês depois do acidente, por ocasião de uma visita oficial a França, Mário Soares recebeu Savimbi em Paris, acto que constituiu a primeira audiência de um Chefe de Estado português ao líder da UNITA, desde os Acordos de Alvor em 1975. Em resposta às críticas que a propósito lhe foram formuladas, declarou: «Savimbi não tem peste e recebi-o como um cidadão do mundo que fala com toda a gente com quem tem de falar».
Mário Soares voltaria a receber Savimbi quando o líder da UNITA se deslocou a Portugal em Janeiro de 1990, sendo igualmente recebido por Cavaco Silva. Mas, enquanto Soares o recebeu no Palácio de Belém, na qualidade de Presidente da República, Cavaco Silva não o fez como primeiro-ministro, em virtude de que recebeu o líder da UNITA na sede do PSD, como líder do partido, estando na altura acompanhado por Durão Barroso, também este não na qualidade de ministro dos Estrangeiros mas como membro da comissão política nacional do PSD.
Em 1992, João Soares demarca-se pela primeira vez de Savimbi, ao certificar-se de que este mandara fuzilar os dirigentes da UNITA Tito Chingondji e Wilson dos Santos. Por seu turno, Savimbi mostra-se desagradado com Cavaco Silva e Durão Barroso e declara que, se ganhar as eleições (realizadas em Setembro desse ano) o seu único interlocutor em Portugal será o Presidente Mário Soares.
No ano seguinte, Mário Soares recebe uma delegação da UNITA, chefiada pelo general Ben-Ben. O MNE angolano, Venâncio de Moura, pede explicações. Na ocasião, o oficioso Jornal de Angola publica um artigo intitulado «Um boelo» [burro, em kimbundo], no qual Mário Soares é injuriado: «É mesmo um boelo esse bochechas. Nem vergonha tem naquela kalanga [cara] por tão grandes desavergonhices que estampam o seu mau caratismo e maldade».
Encontro falhado em Maputo
A posse de Joaquim Chissano como Presidente de Moçambique, em 1994, dá ensejo a que Mário Soares e José Eduardo dos Santos se encontrem circunstancialmente em Maputo. Mas o Presidente angolano só teve tempo para uma audiência com Durão Barroso, falando exclusivamente com este sobre a situação angolana.
No mesmo ano, o embaixador angolano, Ruy Mingas, a propósito de uma carta dirigida a José Eduardo dos Santos por Mário Soares, acusou este de «interferências incorrectas e abusivas» que teriam comprometido a presença de Angola na Cimeira Lusófona. O Governo português foi então alvo de críticas por ter reagido de forma discreta. Durão Barroso protestou junto do seu homólogo angolano, mas recusou-se a fazer qualquer desagravo público.
De visita às Seychelles, em 1995, Mário Soares, em conversa descontraída com os jornalistas, após o jantar, falou de Angola (que visitaria oficialmente no ano seguinte) e sobre os líderes em confronto, emitindo esta opinião: «José Eduardo dos Santos é um homem banal. Não provoca a ninguém um virar de pescoço quando entra numa sala. Jonas Savimbi tem uma presença esmagadora. É um verdadeiro líder africano».
Não obstante estas afirmações, Mário Soares soube ser diplomata na visita oficial que realizou a Angola em 1996, pois embora tenha recebido em Luanda uma representação da UNITA, recusou-se a ir ao Bailundo encontrar-se com Savimbi, o qual, por outro lado, se recusara a ir a Luanda para ser recebido por Soares.
A escalada verbal atingiria um nível sem precedentes no ano 2000. Através de um artigo no Expresso, Mário Soares acusou o Governo angolano de graves violações dos direitos humanos na escalada da guerra e no cerceamento da liberdade de Imprensa, com realce para a prisão e julgamento do jornalista Rafael Marques por ter escrito um artigo («O Baton da Ditadura», publicado no semanário luandense Agora) considerado difamatório do Presidente José Eduardo dos Santos. A propósito, Soares enunciou detalhadamente a posição condenatória do regime angolano, em que participara como deputado do Parlamento Europeu reunido em Estrasburgo.
O ‘fait divers’ de Gama
A reacção não se fez esperar, por intermédio do ministro angolano da Comunicação Social, Hendrick Vaal Neto, que acusou Mário Soares e seu filho João (na altura presidente da Câmara de Lisboa) de «beneficiarem do tráfico de diamantes feito pela UNITA», acusação logo corroborada pelo deputado angolano MacMahon.
Em Portugal, estas declarações inflamaram todos os sectores da opinião pública, pondo em confronto diversos graus de entendimento do caso e da sua gravidade. O Presidente Jorge Sampaio, regressado de uma visita á Roménia, escreveu ao seu homólogo angolano, considerando as declarações do ministro «inaceitavelmente caluniosas». Também o primeiro-ministro, António Guterres, escreveu uma carta ao Presidente angolano, dando conhecimento da mesma a Mário Soares. No entanto, a reacção do MNE Jaime Gama, que considerou o caso um ‘fait divers’, limitando-se a falar com o seu homólogo e a pedir mais contenção, suscitou um coro de críticas, inclusivamente dentro do seu próprio partido. O assunto foi a debate na Assembleia da República, onde curiosamente a proposta aprovada não foi a do PS mas a redigida pelo Bloco de Esquerda, em que se repudiavam as palavras do ministro angolano e se manifestava solidariedade, não aos Soares, mas «a todos aqueles que em Angola lutam pela paz, pela defesa dos direitos humanos e das liberdades democráticas».
Perante as vozes inflamadas que se levantaram (Paulo Portas chegou a dizer que «Portugal está a sofrer um vexame diplomático») não faltaram também os apelos ao bom senso, por vezes com perguntas dirigidas à memória dos mais exaltados: quando a UNITA chamou «criminosos de guerra» a Almeida Santos, António Guterres, Jaime Gama e Durão Barroso, alguém tomou posição e manifestou solidariedade? Alguém se lembra da resposta do Governo de Cavaco quando Jonas Savimbi chamou «garoto» ao então ministro Durão Barroso?
No auge da contenda – que se arrastou nos media semanas a fio – ouve excessos de linguagem de parte a parte. Assim, por exemplo, um tal Chicoadão referiu-se a João Soares, nas páginas do Jornal de Angola, como «um gatuno comprovado das riquezas de Angola». Por seu turno, João Soares, numa entrevista ao semanário Expresso, classificou os dirigentes angolanos como «um bando de cleptócratas». O mesmo jornal resolveu ouvir o ex-dirigente do PS, Rui Mateus, que durante anos fora responsável pelas relações internacionais do partido e que era autor do polémico livro Memórias de um PS desconhecido. Das suas declarações, importa reter esta revelação: «Pela minha parte, o PS nunca recebeu nada, nem do MPLA nem da UNITA. O PS mantinha relações clandestinas com a UNITA, mas não por mim. Eram relações escondidas, que o dr. Soares durante muito tempo manteve confidenciais», em virtude de «não querer que isso fosse do conhecimento da Internacional Socialista, onde o movimento da UNITA não era reconhecido». Esclarecedor.
* Acácio Barradas é um jornalista português. Trabalhou em Luanda nos matutinos O Comércio e A Província de Angola e foi chefe de redacção do ABC-Diário de Angola e dos semanários Jornal do Congo e revista Notícia. Regressou a Portugal em 1968 e foi chefe de redacção do Diário Popular, Diário de Lisboa e Diário de Notícias. Actualmente, dedica-se a trabalhos de investigação histórica. Em Outubro de 2005 editou e foi autor de vários textos da biografia “Agostinho Neto-Uma vida sem tréguas 1922-1979″, por ocasião do 25º aniversário da morte do fundador da Nação angolana.
Ver muito mais aqui.